Opinação

China, Japão e Coréias: Novas mudanças, novos rumos

4 de janeiro de 2013
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A passagem de ano nos remete a sensação mudança, de novas atitudes, novas posturas e principalmente de esperança de que dias melhores virão. No extremo oriente, 2013 trará, de fato, muitas novidades: os quatro países da região – Coréia do Sul, Coréia do Norte, República Popular da China e Japão – passaram por mudanças recentes na chefia de Estado.

A Coréia do Sul passou por recente troca no comando do governo e, em fevereiro, assume Park Geun-Hye, filha do General Park Chung-Hee, ditador que comandou o país de 1961 até sua morte em 1979.  A recém-eleita Park tem 60 anos e será a primeira mulher a governar o país. Além disso, pertence ao partido conservador Saenuri, que já comanda o país desde a última eleição presidencial, por meio de Lee Myung-Bak.

Park Geun-Hye, primeira mulher a ser presidente da Coréia do Sul. Eleita no último mês, ela iniciará suas atividades em Fevereiro.

No lado norte do paralelo 38, a mudança de liderança aconteceu no final de 2011, quando morreu o “querido líder” Kim Jong-Il e assumiu seu filho, o jovem Kim Jong-Un. Com apenas 28 ou 29 anos (não se sabe a idade ao certo), Kim Jong-Un se tornou o mais jovem chefe-de-Estado do planeta e, desde o começo, teve que enfrentar oposição de uma parte das forças armadas norte-coreanas que preferiam alguém mais linha-dura para assumir o comando do país comunista. Além disso, o novo Líder Supremo tem que lidar com as dificuldades de manter um projeto nuclear a contra-gosto de quase todo o planeta.

Kim Jong-Un, filho mais jovem de Kim Jong-Il assumiu o poder na Coréia do Norte em Dezembro de 2011. Acima, ele discursa para a população por ocasião do último ano novo.

No Japão, Shinzo Abe ganha nova chance como premiê, depois de um ano de mandato entre Setembro de 2006 e Setembro de 2007. Abe é do partido Liberal Democrata (LDP), de matriz ideológica conservadora e que mais tempo ficou no poder desde a instauração da democracia japonesa. A mudança ocorre no meio de uma crise bilateral com a China pela disputa de algumas ilhas entre os dois países, chamadas de Diaoyu pelos chineses e Senkaku pelos japoneses.

Após a vitória de seu partido nas eleições parlamentares no último mês, Shinzo Abe assume novamente o posto de primeiro-ministro do Japão. Ele já havia ocupado o posto entre 2006 e 2007.

Em Março, Xi Jinping deverá ser o novo Chefe-de-Estado da República Popular da China. A mudança ocorre após 10 anos de governo de Hu Jintao, durante os quais a China assumiu o posto de segunda maior economia e de maior exportador do planeta. Xi vem da facção dos chamados “príncipes” do Partido Comunista Chinês, filhos de ex-membros importantes do partido ou que participaram da Guerra Civil Chinesa, que colocou os comunistas no poder em 1949. No caso de Xi, ele é filho de Xi Zhongxun, ex-vice-premiê e guerrilheiro que lutou na expulsão dos japoneses da China e na Guerra Civil.

Xi Jinping deve assumir a presidência da China em Março, por apontamento do Partido Comunista Chinês.

As mudanças nas cúpulas de poder afetam as duas principais focos de tensão na região: o conflito entre as Coréias do Norte e do Sul e o recente acirramento da rivalidade entre Japão e China. Enquanto na península as esperanças são renovadas com a troca de comando e as projeções futuras são positivas, a relação entre Tóquio e Pequim deve se tornar cada vez mais ríspida dado o perfil dos novos chefes-de-Estado.

Nas Coréias, os discursos mostram uma convergência para a melhora. Mesmo antes de assumir, a futura presidente Park tem defendido um maior diálogo com os vizinhos do norte e de um maior aporte financeiro de ajuda humanitária vindo de Seul. Claro, que as maiores quantidades de doações devem ser condicionadas à restrições ou ao término do programa nuclear norte-coreano, mas a disposição para o diálogo já é uma evolução em comparação ao período Lee Myung-Bak que lidou de forma dura com Pyongyang, cortando boa parte da ajuda financeira ao norte e se fechando cada vez mais para o diálogo com o vizinho.

Não é segredo para ninguém que a Coréia do Norte passa por dificuldades sociais, principalmente por causa de dois grandes déficits: de energia e de alimentos, assuntos aparentemente ignorados pelo “Querido Líder” Kim Jong-Il, que governou o país socialista de 1994 até sua morte em Dezembro de 2011. Contudo, em um discurso surpreendente neste ano novo, o atual comandante dos norte-coreanos, Kim Jong-Un, disse que a prioridade de 2013 é aumentar a qualidade de vida de sua população. E ainda defendeu, no mesmo discurso, a paz e a reconciliação com Seul, chegando até a falar em reunificação, uma palavra que é quase um tabu na península coreana. A única nota negativa é a promessa de modernização do exército, ainda que sem citar armamentos atômicos.

Mísseis norte-coreanos em parada militar. O programa nuclear norte-coreano é um dos cernes da permanente crise entre norte e sul.

Observando, portanto, o comportamento dos novos líderes coreanos, devemos esperar uma melhora em relação ao período anterior. Kim Jong-Il e Lee Myung-Bak se trataram com muito mais rispidez e quase chegaram a guerra de fato em alguns momentos, como em 2010, quando a Coréia do Norte bombardeou uma ilha ocupada por sul-coreanos, matando duas pessoas. Contudo, a melhoria esperada das relações durante os governos de Park e Kim Jong-Un deve acontecer de forma gradual. A retomada do envio de ajuda ocorrerá aos poucos, pois as contrapartidas oferecidas por Pyongyang também irão progredir de forma lenta. É improvável o desmantelamento do programa nuclear no curto prazo, por exemplo.

Já no Japão, a volta dos conservadores ao poder e, principalmente, a figura de Shinzo Abe aumenta as tensões regionais com a vizinha China. Mesmo antes, da volta do LDP ao poder, a disputa pelas ilhas Diaoyu/Senkaku já se agravaram quando o governo japonês anunciou a compra da ilhas que são propriedade de uma família japonesa. A China criticou duramente a ação e chamou-a de ilegal. O novo primeiro-ministro já declarou ser a favor de reformar a atual constituição e recriar forças militares para o Japão – desde o término da Segunda Guerra Mundial, o país não possuí forças armadas oficialmente e tem sua defesa garantida pelos Estados Unidos. O discurso é claro, pode não ter relação direta com a disputa pelas ilhas, mas sinaliza que a vontade do novo governo é um Japão mais agressivo.

Mapa do jornal inglês The Guardian que ilustra a disputa pelas ilhas Diaoyu/Senkaku.

Xi Jinping, por sua vez, não tem nenhum histórico de ser um nacionalista extremado. Não mais do que a média de seus compatriotas ou do que ex-presidente Hu Jintao. Mas ainda assim é um novo governante – que precisa mostrar serviço para seus pares do partido comunista – de um país que deve assumir o posto de líder do sistema internacional em no máximo 50 anos. É provável, portanto, que Xi reaja com mais força do que seu antecessor reagiria à um movimento nacionalista dos japoneses, podendo provocar um conflito bélico. Como a China tem outras disputas por ilhas na região e no sudeste asiático, é pouco crível que um primeiro movimento de agressão venha de Pequim, apenas uma reação dura. Mas com Shinzo Abe no governo do Japão, não difícil crer que o estopim possa vir de Tóquio.

De Dezembro de 2011 à Março de 2013, num período de apenas 1 ano e 3 meses, vimos os quatro países do nordeste asiático trocarem seus comandantes, dois de maneira democrática, um de maneira ‘semi-democrática’ e um de maneira totalmente autoritária. Independente, porém, dos regimes políticos de seus países, os perfis individuais de cada um que determinarão como se dará a geopolítica da região nos próximos anos. Olhando o que cada um vêm dizendo em discursos e as condições em que assumem, pudemos tirar perspectivas das tensões da região.

As Coréias parecem caminhar para uma ligeira melhora, mas os discursos de Park e Kim Jong-Un precisam ser colocados em prática, para que não sejam meras promessas políticas. Todos têm a ganhar com isso, principalmente a população norte-coreana que vê a possibilidade de melhorar suas condições de vida com a ajuda externa. Já o conflito – por enquanto apenas diplomático –  entre China e Japão, alça a região a um nível de tensão que a coloca entre as mais perigosas do mundo, já que em nenhuma outra região, dois países tão grandes estão em choque. É importante lembrar que, caso haja um embate bélico entre Japão e China, os Estados Unidos entram quase que automaticamente na disputa, já que por meio de tratado internacional têm a obrigação de garantir a segurança japonesa desde a Segunda Guerra Mundial, em troca de Tóquio aceitar restrições militares rígidas. Portanto, Abe e Xi Jinping vão ter que abrandar os discursos e a prática em nome de maior tranquilidade não só para a região, mas para todo o planeta. Por incrível que pareça, o conflito coreano parece não ser o principal problema de segurança do Leste da Ásia em 2013.


Os números de 2012

4 de janeiro de 2013
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Report de ano novo feito pelo WordPress para o blog. Ficou bacana então decidi compartilhar com todos antes de fazer a primeira postagem de 2013.  Cliquem no link para ver o report com todos os dados de 2012.

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Publicado em Pessoal

About author

Sou Andrei Dias, paulistano, estudante de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, onde ingressei em 2011. Atualmente, também sou coordenador geral do NERI (Núcleo de Estudos em Relações Internacionais) uma entidade estudantil que promove discussões e palestras sobre diversas regiões do globo.

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