Opinação

A Guerra do Irã: Tão Perto e Tão Longe

24 de abril de 2012
Deixe um comentário

Janeiro de 2002. Quatro meses após o atentado de 11 de Setembro de 2001, o presidente dos Estados Unidos à época, George W. Bush, discursa e define pela primeira vez o termo “Eixo do Mal“. O grupo de países que supostamente ameaça a paz e a segurança internacional é restrito a três: Irã, Iraque e Coréia do Norte. Dez anos depois – após erros, acertos e uma mudança presidencial – os Estados Unidos têm uma ótima chance de usar mais uma criação de Bush – a guerra preventiva – contra o seu maior inimigo atual, o já citado Irã.

O ex-presidente George W. Bush cunhou o termo Eixo do Mal e sua política externa agressiva para com o Oriente Médio ainda hoje gera limitações para atuação de Obama.

O país islâmico vem sofrendo sanções econômicas com frequência, sinal de que já não anda tão bem quisto pela sociedade internacional. As tensões entre Irã e Estados Unidos-Israel tem se acirrado cada vez mais e já houve, inclusive, ameaças públicas iranianas de fechar o estreito de Ormuz, que impediria o transporte de boa parte da ração diária de petróleo do planeta. O motivo também é bastante plausível, a insistência do regime dos aiatolás em manter seu programa de nuclear de enriquecimento de urânio para alegados fins pacíficos e que o mundo inteiro suspeita serem para a construção da temida bomba atômica.

Além disso o jogo de alianças atual é extremamente favorável aos americanos: Israel está apenas aguardando a ordem de ataque e a Arábia Saudita , que abriga diversas bases militares do exército norte-americano, tem se mantido muito estável durante a Primavera Árabe. Por outro lado o grande aliado do Irã no Oriente Médio, a Síria de Assad, passa por uma grave crise interna e está fora de combate. E o mais importante de tudo, a bomba iraniana não está pronta. Para Israel é fundamental que um possível ataque se dê antes do concluo do artefato nuclear por parte dos iranianos, já que o alvo mais próximo seria o país judeu.

Bases militares norte-americanas na Ásia próxima. A concentração de bases ao longo da fronteira do Irã e no estreito de Ormuz é maior.

Tal situação levou muita gente, especialistas inclusive, a afirmar que a “Guerra do Irã” levaria poucos dias para estourar. Não foi o que aconteceu, como se sabe, e nem deve acontecer no curto prazo. Os Estados Unidos devem perder o timing do ataque por variadas razões, como fracassos de política externa no Oriente Médio, mudança da ordem internacional e também eleições presidenciais de 2012.

Em Novembro de 2001, os Estados Unidos começaram a caça ao indesejável número 1, o terrorista saudita Osama Bin Laden, que se refugiava nas montanhas a leste do Afeganistão, próximo a fronteira com o Paquistão. Com o respaldo da OTAN, iniciou-se uma invasão que depôs o governo radical Talibã do poder no Afeganistão e instalou uma democracia, ainda que muito frágil e dependente das forças militares dos países invasores.

A Guerra do Afeganistão pode ser considerada um fracasso, embora tenha alcançado o objetivo de capturar Bin Laden. Mesmo após longos anos tentando restabelecer a paz no país, as forças da OTAN ainda sofrem com as guerrilhas do Talibã, que controlam algumas áreas no interior do país. Contudo, esse fracasso, acabou sendo circunstancial e não um erro. Invadir o Afeganistão fazia sentido à época e contou com o apoio de grande parte da sociedade internacional, pois a justificativa da invasão era justa: o governo afegão dava proteção e suporte a uma organização que havia causado uma agressão grave aos norte-americanos.

Soldado norte-americano em ação no Afeganistão. Captura de Osama Bin Laden e derrubada parcial do Talibã não impediram fracasso.

O grande erro foi a invasão do Iraque, em Março de 2003. Após definir o “Eixo do Mal” em 2002, Bush partiu para ação com a invasão do país de Saddam Hussein, um velho inimigo de família. A justificativa era a presença de armas químicas e nucleares no país árabe, mesmo sem a comprovação de sua existência. Diante de uma argumentação pobre e sem respaldo algum, a grande maioria dos países e inclusive a ONU foi contra a guerra. Contudo, a opinião pública norte-americana, ainda abalada com os ataques de 11 de Setembro, parecia respaldar a invasão.

A história pela qual o Afeganistão passava, o Iraque também passava concomitantemente. Mesmo após a captura do ditador Saddam Hussein e a instalação de uma democracia, o país mergulhou num caos e sofre constantemente com atentados suicidas. Barack Obama, ao assumir o poder em 2009, prometeu a retirada das tropas americanas do país durante seu mandato e cumpriu. A passagem norte-americana pelo Oriente Médio novamente cumpre seus objetivos de maneira desastrosa.

Essas duas invasões, com suas semelhanças e diferenças, ajudaram a pavimentar o caminho da impossibilidade norte-americana de agir no Irã atualmente. A opinião pública tão favorável a guerra em 2001 e em 2003, parece ter se cansado de perder soldados para defender supostos interesses de outros países, uma vez que com Osama e Saddam fora de circulação, a questão da segurança interna já parece bem encaminhada. A isso soma-se a crise econômica internacional que mudou as prioridades do cidadão norte-americano médio para outros problemas, como desemprego.

Barack Obama e Mahmoud Ahmadinejad: tensões acirradas no começo de 2012, mas a esperada invasão do Irã não deve acontecer.

É aí que entram as eleições presidenciais de 2012. Obama apesar de favorito para a reeleição não tem gozado de uma popularidade tão alta a ponto de ter uma vitória garantida e, por isso, o presidente tem pisado em ovos diante de situações um pouco mais complicadas. A grande verdade é que Obama foi incapaz de solucionar com maestria os problemas que George Bush lhe legou: as tropas no Iraque saíram muito depois do programado, as do Afeganistão ainda estão combatendo e os impactos da crise ainda rondam o país, embora bem mais fracos.

A sorte de Obama é que seu adversário republicano, seja Mitt Romney, Ron Paul ou qualquer outro, também não tem carisma ou popularidade para serem favoritos no embate presidencial. Portanto, o atual presidente americano não colocará em risco sua reeleição numa invasão do Irã com grande parte da opinião pública contrária a uma guerra. Seria uma inabilidade política colossal.

Os “tambores da guerra” estiveram próximos de soar no Oriente Médio. Os norte-americanos têm intensificado a presença de bases militares ao redor da fronteira iraniana, tanto no Afeganistão, quanto na Arábia Saudita e no Iraque. Há quem diga que o assassinato do cientista nuclear Mustafa Ahmadi Roshan, em Janeiro, acirrou as tensões regionais entre Israel e Irã a um nível sem precedentes. Porém, por mais que o país judeu queira e sinta o momento favorável, o aval americano não virá: Obama ainda paga por erros do passado que não conseguiu resolver e uma eleição a ganhar.


Sarkozy Ganhou uma Chance

4 de abril de 2012
Deixe um comentário

A França conta os dias para a eleição presidencial de 22 de Abril, que são cruciais para o futuro do país nos próximos anos. O atual presidente Nicolas Sarkozy, conservador, tenta um segundo mandato contra o Socialista François Hollande, de centro-esqueda, a líder da Frente Nacional Marine Le Pen, de extrema-direita, e Jean-Luc Mélenchon, da Frente de Esquerda, entre outros candidatos menores.

Os candidatos de esquerda e extrema-direita, respectivamente Jean-Luc Melénchon e Marine Le Pen. Ambos têm aproximadamente entre 10% e 15% da intenção dos votos.

A crise social e econômica, pela qual passam a França e a Europa em geral, é a grande questão por trás do pleito, em especial seus desdobramentos políticos na manutenção da Zona do Euro e nas ondas imigratórias, sempre um grande problema na França. Entretanto um novo fator de desequilíbrio, ligado a segurança pública e internacional, surgiu e pode ser decisivo para as eleições.

Em Toulouse, Mohamed Merah, um cidadão de origem argelina e que se auto-denominou “inspirado pela Al-Qaeda”, assassinou sete pessoas no último mês. Um primeiro ataque contra soldados com aparência de imigrantes e um segundo ataque numa escola judaica, que terminou com a morte de um adulto e três crianças. Seguiram-se investigações que resultaram num cerco ao terrorista num apartamento e uma operação policial gigantesca, que culminou com morte do terrorista.

O "atirador de Toulouse", Mohamed Merah.

Mesmo após mais de 20 dias da tragédia, ainda há muita especulação por parte da imprensa sobre Merah. Sua morte deixa em aberto várias questões, como motivação do ataque, ligação com grupos terroristas e a presença ou não de cúmplices. O aparente fracasso na operação em capturar o atirador vivo, que deveria ser prejudicial ao presidente Sarkozy, tem sido usado de forma hábil pela situação como uma arma eleitoral.

O clima de incerteza e insegurança gerado pelos ataques é o tipo de situação em que  Sarkozy se sai muito bem. Usando a máquina a seu favor, começou a tomar atitudes enérgicas como a expulsão de líderes religiosos islâmicos e assim ganhou votos do grande número de indecisos e roubou votos do tímido e moderado Hollande, que liderou todas as pesquisas até os ataques de Toulouse. Com um discurso altamente inflamado e usando de argumentos muito próximos a xenofobia, roubou votos da extrema direita Marine Le Pen.

O resultado dessa atuação enérgica, expresso na pesquisa de 27 de Março do jornal Le Figaro, foi muito positivo. Sarkozy pela primeira vez lidera as pesquisas para o primeiro turno e diminuiu a desvantagem que tinha perante a Hollande no segundo turno para apenas 8 pontos, a menor desde o início das pesquisas. Le Pen, apesar de perder votos para Sarkozy, cresceu um ponto percentual e o extrema esquerda Mechelon, também muito enérgico e carismático, cresceu também um ponto.

Nicolas Sarkozy e François Hollande são os favoritos da eleição presidencial de 22 de Abril e devem fazer o segundo turno, no dia 06 de maio.

A não ser que ocorra outra guinada muito grande, é improvável que o segundo turno, marcado para 6 de maio não seja disputado por Sarkozy e Hollande. Isso garante ao atual presidente mais 15 dias para tentar tirar a diferença a favor do socialista. A favor do presidente, o clima de insegurança e as atitudes enérgicas e excessivas do governo  ante essa situação contra imigração e contra os supostos terroristas. Contra, as atitudes elitistas de Sarkozy durante todo governo que levaram ao desmantelamento do estado de bem-estar social na França e um tabu importante: desde o início da crise européia, nenhum chefe de executivo sobreviveu a eleições no continente. A favor dos franceses, a esperança de que Sarkozy consiga resolver o que não resolveu até agora ou que Hollande faça o que seu antecessor não foi capaz de fazer.


Crisis in Syria

2 de abril de 2012
Deixe um comentário

The “Syrian Spring” looks like a winter. The manifestations demanding democracy and the resignation of the president Bashar Al-Assad became a bloody civil war with more than 8,000 casualties.  Added to this there are two problems: The Security Council of the United Nations is unable to act once Russia is exercising its veto power to assist his ally on Middle East and a plural and big religious fragmentation on Syrian population.

During the 40 years of the dictatorship of the Assad “dynasty”, which began with Hafez Al-Assad and continues with his son Bashar, this is the greatest crisis and threat to the regime. Under the hard control of the government, the latent ethnic and religious divisions were formatted, but the influence of the revolts in other neighbor countries came to Damascus and ignited the masses against the authoritarian government, which reacted violently.

The Syrian dictator Bashar Al-Assad

This situation is no longer reversible. There is not a good environment to Assad to continue in the power and, irrespective of the intervention of foreign countries it is very unlikely he remains leading the country after the civil war. The real question this is where Syria will go after this transition. And it is so hard to imagine a calm transition scenario to Syria even being so optimistic.

The Assad’s government is repressing the democratic movements with a disproportional force and it generates an effect of radicalization inside the opposition groups. Radical factions, especially the ones linked to Sunni groups, gained ground in the domes of the resistance. Moreover, many of these radical factions believe and fight for the implementation of and religious and Islamic state. That is the reason why Christians and other minorities are fighting side by side with the government, which is secular.

The combination of radicalism and fundamentalist state is even more dramatic to Christian minority and other Islamic minorities like Shiites and Alawites. This latter group still fears reprisals or revenge because it was the dominant group in Assad government and constituted the political elite of Syria. In this scenario of a religious state without any foreign intervention, it is likely to occur religious persecution, massacres, continuation of the civil war and, in an extreme situation, genocide.

When we look to the radicalism of the Syrian Civil War and its possible – why not likely? – consequences, we can see that UN would have a key role in Syria, which goes far beyond whether or not stop the civil war and save thousands of people in risk. The real role of UN is work side by side the opposition groups to ensure a pacific power transition and the rebuild of the country physically and institutionally like it did in East Timor and Cambodia.

Religious divisions in Syria: A more detailed graphic.

The years of abusive dictatorship and the strong repression against the democratic movements led Syria to a deep crisis in his society. The religious divisions controlled for the government surfaced brutally in a civil war that killed a lot innocent people. But Christians, Shiites and Alawites should not be judged to fight as ally of Bashar Al-Assad because in their minds they are fighting for their own existence as minorities.

The UN, blocked by Russia’s veto, needs to use all of your diplomacy to be free of this prison and intervene in Syria. The peace in the transition power process may depend directly of the foreign forces’ actuation and the United Nations is the only International Organization which has the legitimacy and power to act at this moment. Sometimes the humanitarian intervention is not the best solution to internal problems in a country because it may hurt sovereign and the right of self-determination. But in this terrible crisis the Syrian people cannot refuse some help.


About author

Sou Andrei Dias, paulistano, estudante de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, onde ingressei em 2011. Atualmente, também sou coordenador geral do NERI (Núcleo de Estudos em Relações Internacionais) uma entidade estudantil que promove discussões e palestras sobre diversas regiões do globo.

Search

Navegação

Categorias:

Links:

Archives:

Feeds