Opinação

O Fim da Dinastia?

24 de outubro de 2012
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A guerra civil na Síria já dura mais de um ano e já levou a vida de dezenas de milhares de pessoas. A rede de alianças do Presidente Bashar Al-Assad e os problemas ocorridos recentemente na transição de governo de outros países árabes – como Egito e Líbia – evitaram, por ora, a intervenção militar direta na Síria. O papel de outros Estados e de Organizações Internacionais no conflito foi, até então, limitado a pequenas ajudas informais aos grupos contrários ao governo e declarações contrárias à repressão do governo ditatorial. A situação de conflito, contudo, parece ter alcançado uma nova fase, onde as tropas de Assad já não parecem ter controle sobre a situação.

O primeiro indício do enfraquecimento das forças do ditador foi o começo do uso da força aérea de maneira mais ostensiva há alguns meses. Como forças populares que se rebelam contra o governo, em geral, não tem acesso a armamentos sofisticados – como aviões e helicópteros – é normal que optem por táticas de guerrilha em terra. Deste modo, é melhor que as Forças Armadas oficiais respondam também por terra, já que os ataques aéreos são pouco precisos contra guerrilheiros. Logo, o uso ostensivo de aviões pode ser interpretado como um certo desespero de Assad ante o enfraquecimento de suas posições na guerra.

Rua na cidade de Aleppo, na Síria, destruída durante a guerra civil.

Um outro sinal de fraqueza das forças pró-governo, é o “vazamento” do conflito para países vizinhos. No último mês houve explosões de morteiros em uma vila próxima a fronteira entre a Síria e a Turquia, mas já dentro do território turco, com vítimas fatais. O premiê Recep Tayyip Erdogan deu duras declarações contra o regime sírio, ameaçou invocar o famoso artigo 5 da carta da OTAN – que envolveria outros países da organização no conflito – e respondeu ordenando bombardeios em algumas áreas do país árabe, também próximas a fronteira. Novas agressões acirrarão as tensões e podem fazer com que a Turquia entre em conflito aberto com seu vizinho, ao lado das forças rebeldes. Pode-se dizer que seria o fim de Assad, já que uma invasão da Turquia seria respaldada por seus aliados ocidentais.

No Líbano, a coisa ficou ainda mais feia. Um ataque terrorista em plena capital Beirute – com fortes indícios de participação síria – matou oito pessoas, entre elas um importante funcionário de segurança do governo, Wissam Al Hassan, que no passado foi responsável por investigações que culparam o Hizbollah e outros membros de governo – sempre aliados de Assad – por atentados que mataram importantes figuras libanesas que faziam oposição ao governo sírio, entre elas o ex-premiê Rafik Al-Hariri. Ao contrário da Turquia, que tem um governo muito mais estável e organizado, o Líbano foi devastado pelos respingos do conflito sírio. A divisão sectária entre sunitas, xiitas e cristãos se acirrou e começaram os conflitos entre as facções. O frágil exército, pouco pode fazer para controlar as tensões populares. As lembranças da Guerra Civil voltam a assombrar o pequeno país do Oriente Médio, que não conseguiu responder ao ataque.

Quem perdeu no Líbano, a princípio, foram os inimigos de Assad, mas a instabilidade do país vizinho pode ser a porta de entrada de potências estrangeiras na região. É muito mais fácil aprovar uma intervenção em um país pequeno, como o Líbano, do que seria na Síria. Isso colocaria tropas indesejáveis no quintal sírio, além de, provavelmente, dificultar a ação de grupos aliados do ditador, como o Hizbollah, o que no longo prazo seria também trágico para o ditador.

Foto de Beirute, no Líbano, após o atentado terrorista que vitimou Wissam Al Hassan

Analisando este panorama, parece claro que o atual governo da Síria está perto do fim. O interessante é que, aparentemente, até mesmo a alta cúpula do governo Assad percebeu isto. Na última semana, foi decretada a anistia de quase todos os tipos de crimes cometidos no país, anteriores à data do decreto. Um claro sinal de disposição a negociar ou de tentar, por vias não violentas, persuadir os rebeldes a pararem de lutar, garantindo o perdão. Se não der certo, e provavelmente não dará, o decreto poderá servir de salvaguarda para perdão das próprias forças pró-Assad, quando cair o regime. O fim parece próximo para “dinastia” da família Assad.


About author

Sou Andrei Dias, paulistano, estudante de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, onde ingressei em 2011. Atualmente, também sou coordenador geral do NERI (Núcleo de Estudos em Relações Internacionais) uma entidade estudantil que promove discussões e palestras sobre diversas regiões do globo.

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