A guerra civil na Síria já dura mais de um ano e já levou a vida de dezenas de milhares de pessoas. A rede de alianças do Presidente Bashar Al-Assad e os problemas ocorridos recentemente na transição de governo de outros países árabes – como Egito e Líbia – evitaram, por ora, a intervenção militar direta na Síria. O papel de outros Estados e de Organizações Internacionais no conflito foi, até então, limitado a pequenas ajudas informais aos grupos contrários ao governo e declarações contrárias à repressão do governo ditatorial. A situação de conflito, contudo, parece ter alcançado uma nova fase, onde as tropas de Assad já não parecem ter controle sobre a situação.
O primeiro indício do enfraquecimento das forças do ditador foi o começo do uso da força aérea de maneira mais ostensiva há alguns meses. Como forças populares que se rebelam contra o governo, em geral, não tem acesso a armamentos sofisticados – como aviões e helicópteros – é normal que optem por táticas de guerrilha em terra. Deste modo, é melhor que as Forças Armadas oficiais respondam também por terra, já que os ataques aéreos são pouco precisos contra guerrilheiros. Logo, o uso ostensivo de aviões pode ser interpretado como um certo desespero de Assad ante o enfraquecimento de suas posições na guerra.
Um outro sinal de fraqueza das forças pró-governo, é o “vazamento” do conflito para países vizinhos. No último mês houve explosões de morteiros em uma vila próxima a fronteira entre a Síria e a Turquia, mas já dentro do território turco, com vítimas fatais. O premiê Recep Tayyip Erdogan deu duras declarações contra o regime sírio, ameaçou invocar o famoso artigo 5 da carta da OTAN – que envolveria outros países da organização no conflito – e respondeu ordenando bombardeios em algumas áreas do país árabe, também próximas a fronteira. Novas agressões acirrarão as tensões e podem fazer com que a Turquia entre em conflito aberto com seu vizinho, ao lado das forças rebeldes. Pode-se dizer que seria o fim de Assad, já que uma invasão da Turquia seria respaldada por seus aliados ocidentais.
No Líbano, a coisa ficou ainda mais feia. Um ataque terrorista em plena capital Beirute – com fortes indícios de participação síria – matou oito pessoas, entre elas um importante funcionário de segurança do governo, Wissam Al Hassan, que no passado foi responsável por investigações que culparam o Hizbollah e outros membros de governo – sempre aliados de Assad – por atentados que mataram importantes figuras libanesas que faziam oposição ao governo sírio, entre elas o ex-premiê Rafik Al-Hariri. Ao contrário da Turquia, que tem um governo muito mais estável e organizado, o Líbano foi devastado pelos respingos do conflito sírio. A divisão sectária entre sunitas, xiitas e cristãos se acirrou e começaram os conflitos entre as facções. O frágil exército, pouco pode fazer para controlar as tensões populares. As lembranças da Guerra Civil voltam a assombrar o pequeno país do Oriente Médio, que não conseguiu responder ao ataque.
Quem perdeu no Líbano, a princípio, foram os inimigos de Assad, mas a instabilidade do país vizinho pode ser a porta de entrada de potências estrangeiras na região. É muito mais fácil aprovar uma intervenção em um país pequeno, como o Líbano, do que seria na Síria. Isso colocaria tropas indesejáveis no quintal sírio, além de, provavelmente, dificultar a ação de grupos aliados do ditador, como o Hizbollah, o que no longo prazo seria também trágico para o ditador.
Analisando este panorama, parece claro que o atual governo da Síria está perto do fim. O interessante é que, aparentemente, até mesmo a alta cúpula do governo Assad percebeu isto. Na última semana, foi decretada a anistia de quase todos os tipos de crimes cometidos no país, anteriores à data do decreto. Um claro sinal de disposição a negociar ou de tentar, por vias não violentas, persuadir os rebeldes a pararem de lutar, garantindo o perdão. Se não der certo, e provavelmente não dará, o decreto poderá servir de salvaguarda para perdão das próprias forças pró-Assad, quando cair o regime. O fim parece próximo para “dinastia” da família Assad.